A PRÁTICA
DA PSIQUIATRIA:
DE SEU FASCÍNIO ÀS SUAS DIFICULDADES E PECULIARIDADES
A Psiquiatria constitui-se, dentre todas as especialidades médicas,
naquela mais complexa e que exige do especialista uma visão teórica
extensa e uma prática clínica diversificada, abnegada, cuidadosa
e sempre atenta. Apesar de todas as contribuições das neurociências
e do fato de seu raio de ação se haver ampliado significativamente
em pouco mais de um século - partindo do estudo quase exclusivo da
loucura nos antigos asilos de alienados e chegando, hoje, a abarcar a pesquisa
e tratamento de toda uma série infindável de formas de adoecer
psíquico, a ponto de merecer com justiça a denominação
medicina do comportamento - o exercício diagnóstico do psiquiatra,
até hoje, não pode contar com mais recursos do que, somente,
uma arguta sensibilidade de registro clínico nos exames psíquicos
e na minuciosa observação da evolução da sintomatologia
apresentada.
Apesar do avanço que representaram os manuais de classificação criteriológica, em especial os DSM, e as entrevistas estruturadas e semi-estruturadas para a obtenção de um diagnóstico dotado de precisão, sensibilidade e confiabilidade, o médico nunca deverá substituir por completo o exame psíquico calcado na apreensão fenomenológica das vivências do paciente por aquele tipo de dados, mas sim, poderá valorizá-los e utilizá-los com vistas ao aprimoramento constante do diagnóstico psiquiátrico.
Para isso, o psiquiatra deverá coletar o máximo de informações a respeito de seu paciente, desde a identificação da natureza dos traços de personalidade predominantes em sua personalidade pré-mórbida, visão de mundo, estilo de vida, hábitos, gostos, preferências, trajetória biográfica e antecedentes familiares, variáveis psicossociais e psicodinâmicas, estudo pormenorizado das funções psíquicas clássicas e, por último, aquelas coincidentes com os dados criteriológicos presentes nos atuais manuais de classificação.
E é dessa maneira, ou seja, somente fundamentando a coleta de dados em um encontro humano caracterizado por uma relação médico-paciente pautada na confiança, respeito, dedicação e observação constante, que o médico poderá conseguir uma visão diagnóstica abrangente a respeito de seu paciente e saberá conduzir o tratamento com maiores possibilidades de êxito.
GUSTAVO FERNANDO JULIÃO DE SOUZA